Hoje falavam-me em viagens de comboio... Daquelas que fazíamos na infância, para a terra dos avós!
Logo me veio à memória a vigem pela linha do Tua, que fazia nas férias grandes para chegar a Trás-os-Montes.
De Lisboa até Macedo era um dia inteiro de viagem, mas na minha memória apenas ficaram impressos os momentos em que o combóio parava na Régua, e que nós aproveitavamos para comprar os famosos rebuçados que as senhoras vendiam na plataforma da estação, e a beleza natural da linha do Tua.
No Tua circulava à data uma automotora a vapor. Eu ia o caminho inteiro à janela e chegava a Macedo invariavelmente toda suja e enfarruscada!
Mas aquela paisagem tinha que ser vista do lado de fora do vidro... Só assim se absorviam as cores e os cheiros daquela natureza bruta e bela como nenhuma outra.
Ao fundo do vale o rio ia baixo, e todos os pedregulhos, pedras e pedrinhas do seu leito ficavam visíveis sob o calor do Verão. O sol batia na água e nas pedras molhadas e reflectia-se em mil cores de arco-iris.
As pedras, moldadas pelo correr da água, tinham formas que faziam voar a imaginação de qualquer criança. Umas pareciam bichos, outras mós de um moínho... Havia de tudo.... Mas não havia duas pedras iguais.
E o verde daquela vegetação... E o brilho do Sol por entre a copa das árvores...
Não sei se é da nostalgia daqueles tempos e das saudades que eles trazem, mas recordo aquele cenário com uma nitidez impressionante... E até juro que nunca vi nada assim noutro lugar do mundo.
Hoje a linha do Tua está desactivada e a Estação de Macedo ao abandono... À semelhança de todos os outros apeadeiros, pequenos e acolhedores, que havia ao longo daquela linha. Em Mirandela aproveitaram os antigos carris para fazer circular o metro de superficie... Mas não é a mesma coisa.
Dou comigo a sonhar com um tempo que passou... E percebo que mesmo que hoje pudesse repetir aquela viagem não seria a mesma coisa... Eu já não tenho 7 ou 8 anos... A minha mãe e a minha avó já partiram... E os momentos... Aqueles momentos, tal como todos os momentos são irrepetíveis... Por mais que queiramos voltar atrás e agarrá-los só podemos prende-los na nossa memória.
E assim, com menos um bocadinho de mim, mas com uma recordação maravilhosa, volto ao aqui e ao agora.
A este propósito, alguém me dizia e bem que "a recordação de uma coisa má é uma dor, a recordação de uma coisa boa é apenas uma recordação".
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