segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A lança? Ou a via da aceitação?

Inevitavelmente, em algum momento da vida, experimentamos sentimentos que não queremos sentir.


Podem ser destrutivos, simplesmente negativos, apenas incómodos ou até verdadeiramente nobres... Mas não os queremos sentir! Então, agarramos na lança do guerreiro e iniciamos uma cruzada contra eles e, consequentemente, contra nós próprios. Nesta guerra, não só não debelamos os sentimentos que queremos a todo o custo sufocar, como ainda arranjamos mais dois ou três inimigos para nos azucrinar o juízo: a negação, a culpa e a recriminação... Pelo menos! E a guerra foi perdia logo à partida.

Mas o caminho não é este. Não é isto que o budismo nos ensina. Não é esta a solução para os problemas que as ilusões da nossa mente condicionada nos criam.

Se, ao invés de nos culparmos, recriminarmos e julgarmos impiedosamente, formos capazes de largar a lança do guerreiro, ficaremos livres para observar todos aqueles bocadinhos de nós que nos incomodam - o nosso lado sombra, - e todos os sentimentos que queremos reprimir. E é nesta observação sem análises ou julgamentos que reside a raiz da aceitação.

É isto que o budismo nos ensina. É esta a via da aceitação. A via do amor e da compaixão... Por todos os seres, começando por nós mesmos.

Mais do que "freios, verdades, reparos e analgésicos", estes sentimentos precisam de aceitação, compaixão e amor incondicional . Melhor do que tentar contraria-los ou reduzi-los a qualquer coisa explicável, que tenha cabimento nas palavras, é desfruta-los e sorrir-lhes*... Sem criticas ou julgamentos.

E ao largarmos a lança, já ganhámos a guerra!


*Adaptado de José Luis Peixoto, in "Abraço"

 

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