segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Saudades, soneto de Florbela Espanca

"Saudades! Sim... Talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!"

Inconstância, soneto de Florbela Espanca

"Procurei o amor que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava.
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer…
Um sol a apagar-se e outro a acender
Nas brumas dos atalhos por onde ando…

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há de partir também… nem eu sei quando…"

Amar, soneto de Florbela Espanca

"Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar."

Se tu viesses ver-me, soneto de Florbela Espanca

"Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti..."

Alma Perdida, soneto de Florbela Espanca

"Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!..."

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Adeus...

Hoje parte-se-me o coração.


Hoje partiu a Pipoka.

Mas não partiu sem deixar marcas, sem passar a sua mensagem, sem antes me salvar.

Adoeceste por altura do meu tratamento. Foi mais um longo, penoso e solitário processo de FIV que não resultou em nada. Durante os meus dias de repouso, nunca abandonaste o meu quarto. Debaixo da minha cama ou deitada no meu tapete lá estavas tu! Sempre ali. Sempre presente, com o teu carinho e a tua alegria, como se percebesses o bem que a tua presença me fazia.

Durante aquele tempo, tiveste o cio. E, apesar de todos os nossos cuidados, lá houve um dia em que tu e o cachorro se pisgaram juntos para o quintal. Pouco tempo depois a tua barriguinha começou a crescer, e todos nós, incluindo o teu veterinário, pensámos o óbvio - estavas prenha, e a uns 15 dias de ter os cachorrinhos.

Claro que eu fiquei felicíssima. O milagre da vida, seja lá em que espécie for, é sempre uma bênção numa casa. E, para mim, era quase como um sinal, uma esperança renovada. Há pouco mais de um ano tínhamos tido no jardim uma ninhada de melros, e a Clarisse tinha dito que era um bom presságio. Nunca mais me esqueci daquela conversa.

Mas quanto mais a tua barriga crescia, mais tu emagrecias. Não havia ração ou Nutrigel que parecesse alterar este facto. Lá te levei de novo ao vet, e ele também achou estranho o teu quadro clínico.

Quando o ouvi dizer "- Só se não for uma prenhez, e for um tumor" foi como se me tirassem o chão debaixo dos pés. Fizeram-te um RX e o sangue gelou-me nas veias quando o vi - não tinhas nada no ventre. Só água!

Era uma ascite. A primeira vez que ouvira tal palavra havia sido no IPO, aquando da doença da minha mãe. Tentei fazer-me forte, mas as lágrimas correram-me pela cara abaixo. Não só não previ tamanha desilusão como, agora, temia pela tua vida.

Fomos de urgência para o Hospital Veterinário de São Bento. Era Sexta-feira, 2 de Julho de 2010, e tu ficaste logo internada, para fazer todos os exames necessários. Eu iria buscar-te no dia seguinte. Mas no dia seguinte não te deram alta. A tua condição era grave, e tu necessitavas de continuar internada. E assim foi. A casa, sem ti, estava demasiado silenciosa e sossegada (sim, porque tu passavas a vida a desassossegar o cachorro para a brincadeira... e ele, às vezes escondia-se de ti, lembras-te?).

Havia que estabilizar a tua condição física para que se pudesse proceder à biopsia, o que apenas foi possível a 7 de Julho. Durante aqueles dias, o meu coração apertou-se tanto, tanto... E nunca deixei de te visitar. A tua cauda abanava de alegria sempre que me vias, e ladravas de zangada sempre que eu me ia embora. Depois da cirurgia, recusaste-te a comer, e eu passei a levar-te arroz e frango. To adoraste, e recuperaste bem. Cinco dias depois, a 12 de Julho, tiveste a tua alta.

Finalmente tinha-te de volta em casa. Com ração especial e devidamente medicada, começaste por reagir bem ao tratamento, e nós respirámos de alívio. Mas este alívio durou pouco tempo. A habituação chegou no espaço de um mês, e foste novamente internada a 13 de Agosto.

Tínhamos esperança que melhorasses, mas isso não aconteceu. Na Segunda-feira seguinte o Dr. Henrique e a Dra. Sheila quiseram falar comigo. Soube logo que as notícias não eram boas. Tu tinhas de novo líquido, mas agora não era apenas no abdómen, era no tórax também. Por isso, tinhas já alguma dificuldade em respirar. Já não ladraste quando eu me vim embora. E eu soube que já não tinhas forças.

Meu Deus... Ainda na Sexta-feira antes tinhas ladrado quando te deixei lá! Como era possível?

O teu pelo começara a cair muito, e na tua pele já se viam infecções oportunistas. Nessa noite o Dr. Henrique ligou-me. Pensei o pior. Mas não, não te tinhas ido embora. Ele apenas me quis avisar de que te iria fazer uma punção torácica para que ficasses mais confortável até ao dia seguinte. Compreendi a mensagem.

Percebi que tinha chegado a altura de tomar a decisão mais humana, e ao mesmo tempo mais difícil, que estava ao meu alcance, e deixar-te partir em paz… Sem dor... Nem sofrimento...

Hoje, quando fui ter contigo, trouxeram-te embrulhadinha numa mantinha azul... Estavas fraca e cansada de lutar. Partiu-me o coração ver-te assim. Olhaste-me com o teu olhar meiguinho e eu tentei ser forte, para que apenas sentisses amor e paz. Conversei contigo, agradeci-te por tudo o que trouxeste à minha vida, pedi-te para olhares por nós quando chegasses ao outro lado, e tentei cantar para ti. Mas os meus olhos estavam inchados de tanto chorar, e tu percebeste, de certo, a tristeza que me ia no coração.

Foi a Dra Sheila que esteve connosco naquele momento doloroso, e tu adormeceste nos meus braços.

Partiste... mas não sem antes mudar a minha vida. Deixas tantas saudades... E marcas tão profundas.

“Quando alguém se cruza no nosso caminho, traz sempre uma mensagem para nós. Encontros fortuitos são coisa que não existe. Mas o modo como respondemos a esses encontros determina se estamos à altura de recebermos a mensagem.” Terei eu estado à altura? Terei eu compreendido a mensagem? Desejo com todas as minhas forças que sim, para que a tua passagem por aqui, e o teu sofrimento não tenham sido em vão.

“A Primeira Revelação acontece quando tomamos consciência das coincidências que ocorrem na nossa vida”. Mas eu não acredito em coincidências. Acredito, sim, que nada acontece por acaso. E não foi por acaso que eu te recolhi. Não foi por acaso que tu adoeceste. Terás vindo mostrar-me o caminho da felicidade? Terei eu escolhido o caminho certo?

Um dia escrevo as nossas crónicas: "We met under the most bizarre circumstances..."

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Queria continuar a amar-te...

A tua indiferença dói-me. Compreendo-a. Aceito as tuas razões.
Mas dói-me.
Dói-me, porque te quiz muito... Dói-me, porque ainda te quero.
Mas não te posso ter, nem me posso dar!
E é por isso que te afastas. E é por isso que compreendo e que aceito.
Mas nem por isso dói menos. Nem por isso é fácil.
Não é fácil ultrapassar a dúvida... Não é fácil esquecer os bons momentos.
Mas nem sequer quero esquece-los. Quero guardá-los comigo, num cantinho da minha alma, que reservo para nós.
Seria tão mais fácil se eu pudesse guardar os sentimentos como guardo as memórias. Guardá-los, em vez de senti-los... Porque mesmo sabendo que não posso, não consigo deixar de sentir o que sinto. A gaveta dos sentimentos, apenas o tempo a fechará!
Até lá, recordar-te-ei como um anjo mensageiro, que o destino pôs no meu caminho.
Nada acontece por acaso, e se aconteceu assim, é porque era assim que tinha que ser.
Amei-te intensamente por breves instantes... Mas não posso amar-te mais...

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Amar apenas...

Não sei o que é... Mas algo me atrai!
Como se de um imã se tratasse... Com uma força superior às minhas forças...
Não sei explicar, e nem tento. Não consigo. Seria um esforço vão. Uma tarefa inglória.
Limito-me a sentir, e a aceitar.
Não luto... Não quero lutar!
Recebo o que a vida traz e saboreio cada momento...
Sem dúvidas e sem questões... Sem remorsos nem arrependimentos...
Aceitar apenas...
Sentir apenas...
Amar apenas...


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A busca do Amor, por Paulo Coelho

"É preciso buscar o Amor onde estiver, mesmo que isso signifique horas, dias, semanas de decepção e tristeza. Porque ao momento em que partimos em busca do Amor, ele também parte ao nosso encontro."  Paulo Coelho

O que me vai na alma...

Gosto de dizer o que me vai na alma... Sempre fui assim.
Quem me conhece bem, sabe que é verdade.
Quem não me conhece, por vezes, surpreende-se.

E hoje necessito partilhar a alma... Entregá-la... Pô-la cá fora... Sacudi-la... Abaná-la... Tirar-lhe as dúvidas... Os medos... Os receios e os arrependimentos... Despi-la de todos os "e se...?" que a atormentam...

"E se...?"

Expressão que corrói mais que o sal e que o vinagre... Que nos leva a reviver o passado e a repensar o futuro... Que lança a nossa alma num turbilhão de pensamentos, de suposições e de "porquê's".

E quando as respostas chegam, parece que vêm tarde... E, mais uma vez, não percebemos porquê!
Só sabemos que dói e que arde!